sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Bazar Pamplona lança seu novo álbum,“Todo Futuro é Fabuloso”


As letras escritas a partir do desenrolar do cotidiano marcam o novo álbum do Bazar Pamplona. O disco chegou para seduzir ouvidos bem sintonizados e dispostos a se arriscar em nome da boa música.

Rock classe A,  pós-psicodelia, guitarras desafiadoras, um time de músicos que aposta em arranjos ousados e um repertório com boas doses de sentimentos e temas polêmicos compõem um universo próprio, onde transitam diversos acordes e uma sinceridade reconhecida em cada verso.

"'Todo futuro é fabuloso', que dá nome ao disco, é uma frase do escritor cubano Alejo Carpentier usada como epígrafe no livro 'Jangada de Pedra', de José Saramago. Fiquei com ela na cabeça e passei a imaginar coisas absurdas (como no livro) que poderiam acontecer. Por exemplo: e se caísse uma chuva tão rápida que não desse tempo de se proteger? Melhor tampar o céu. A música tem imagens absurdas e fala sobre a imprevisibilidade do que pode acontecer. A mensagem que fica é: 'Não esqueçam de viver bem devagar'", explica o vocalista Estêvão Bertoni, autor das letras do grupo.

Foram quatro anos entre as primeiras ideias e a conclusão do CD. Ao longo desse tempo, o Bazar Pamplona amadureceu, incorporou ideias e construiu um trabalho coeso, cheio de ânimo e com ângulos inusitados sobre os fatos cotidianos.

Produzido pelo músico João Erbetta (Los Pirata/ Marcelo Jeneci) em parceria com a banda, o trabalho tem 13 faixas. Gravado em São Paulo e mixado nos EUA, traz ilustrações de Gustavo Gialuca. É, certamente, o trabalho mais pop e maduro do grupo até aqui, destacando as pungentes composições, que tratam de relacionamentos, reflexões e fatos que marcam a vida dos integrantes da banda na metrópole.

“Todo Futuro é Fabuloso” por Alexandre Kupinski (Apanhador Só – RS)

Há quem não queira acompanhar o ritmo alucinado com que o mundo vem funcionando.
Há quem sinta a dor da perda de um ente querido e passe a pisar os mesmos passos que ele. Há quem não encontre seu lugar no mundo assim tão fácil.
Há quem ache equilíbrio de postura com um pé sabiamente firmado atrás. Há quem grite por menos desespero, mantendo o desespero sempre vivo.
Há quem procure o que se pensa perdido, talvez sem querer achar. Há quem levante a possibilidade do caminho ser de fato maior do que as pernas, e dessas serem ainda maiores do que as virilhas.
Há quem queira colorir o que se mostra desabando, fazendo da poeira a base-mor do blush que aviva a face.
 Há quem faça de tudo isso matéria prima pra instigantes canções, fazendo nascer magníficos álbuns como Todo Futuro É Fabuloso. E assim como o título não deixa dúvidas sobre os futuros, também o disco não deixa muita margem pra se questionar o quão fabulosa é a natureza dele próprio.

Todo Futuro é Fabuloso
Cheia de energia trazida por riffs firmes e pelo vocal rasgado de Estêvão Bertoni, essa faixa abre o disco com toda a força e simplicidade do conselho que é cantado no seu refrão: “Não esqueçam de viver bem devagar.”

Greve
A alegria do arranjo contrasta corajosamente com a tristeza da história que é contada na letra: um pai de família perdido alcoolicamente em meio ao marasmo gerado por uma greve na fábrica onde trabalha. Tipo de assunto difícil de se cantar sem que se caia em clichês de denúncia social ou tragédia pessoal, aqui esse é tratado de maneira direta, mas sempre elegante.

O Gringo
Uma canção sobre o estranhamento de não ser do lugar onde se está. O arranjo, mistura interessantíssima, traz castanholas, chocalhos, violão de nylon e bandolim misturados a guitarras distorcidas, baixo e bateria.

Quem Eles Pensam Que São?
A letra mais divertida do álbum, cheia de humor auto-irônico a respeito do funcionamento interno da própria banda. A faixa tem participação especial do sensacional Pélico nos vocais e de uma pá de fãs e amigos que acompanham a banda por redes sociais e que gravaram em suas casas declarações nas quais se apresentam e falam a respeito dos mais variados assuntos.

Ela Tem Uma Ambulância
Uma introdução bastante simpática numa canção de amor singela muito bem arranjada. Muitos instrumentos se revezando, se somando, se completando. De deixar o sujeito afim de dar um passeio ensolarado até o hospital mais próximo.

Declaração #1
Nada menos do que idéias de amor dramáticas e exageradas cantadas em um minuto bem estruturado de música.

Canção do Meio
“Você está no meio agora/ainda demora pra acabar” canta o Bazar, no eixo exato do centro do disco. E a canção não se esvazia nesse trocadilho poético-geométrico, mas vai além, trazendo consigo questionamentos existencias embalados por uma melodia de voz, um coro no refrão e intervenções de saxofone emocionantes.

É Tão Cafona O Que Eu Sinto Por Você
Dois ex-amantes especulam sobre um possível futuro encontro casual entre os dois, criando um diálogo imaginário carinhosamente burocrático e provocativo embalado por uma música linda cheia de camadas tensas e leves. Participação especial da doce Lulina na voz feminina.

Quero Ser Grande
Uma canção infantil que arrebata os sensíveis de todas as idades descrevendo as mirabolantes fantasias de uma criança criativa e bem-humorada.

Declaração #2
Reza a lenda que o baixista Capanema fez esse registro em voz e violão espontaneamente, em um intervalo das gravações no estúdio, sem saber que estava sendo gravado. Pois ficou bom, então foi pro disco.

As Nuvens Não Tem Playground
Com arranjo que mistura delicadeza e peso em ótimas medidas e bons timbres, essa música traz letra cheia de imagens secas e diretas, como se fosse um ensaio fotográfico de um acontecimento já um tanto remoto na memória de um sujeito melancólico.

Abaixo-Assinado
Quase uma meta-canção, um meta-som que desdobra desde a maneira como o som se espalha fisicamente (mesmo que sem rigor científico), chegando até uma dimensão bastante pessoal a respeito de relações sociais e artísticas de quem canta, evocando inclusive a figura do produtor do disco na letra e a habilidade do Estêvão de imprimir personalidade no desafinar.

Faixa Bônus
A prometida faixa oculta que nunca apareceu no primeiro álbum fora do projeto gráfico finalmente se mostra como música aqui. E mostra uma cara ao mesmo tempo dramática e esperançosa nesse fim do segundo disco da banda. Soa e versa como uma despedida emocionante e sincera, com a sabedoria de quem deixa as coisas acabarem quando têm de acabar.

Bazar Pamplona, um breve histórico
Orgânico e participativo são boas definições para a sonoridade conquistada pelos músicos do Bazar Pamplona. Formado em São Paulo, o grupo transita entre o rock alternativo contemporâneo e o flerte discreto com a MPB.
A música passou a fazer parte do cardápio desses músicos desde cedo, mas o Bazar Pamplona só passou a existir quando dois moradores de uma república de estudantes se reuniram para tocar juntos. O quinteto traz raízes do interior paulista e de Belém do Pará, terra do baterista Rodrigo Caldas.
Em 2006, com produção de Paco Garcia (Los Pirata), o Bazar Pamplona lançou o EP 'Músicas que caem em Pé e Correm Deitadas', com o qual chega ao projeto Prata da Casa, do Sesc Pompeia (São Paulo) como destaque. Já em 2008, surge o primeiro CD do grupo,  'À Espera das Nuvens Carregadas', com uma boa receptividade do público e elogios.
Com nuances harmônicas escondidas nas canções, o grupo apresenta o novo trabalho, 'Todo Futuro é Fabuloso'. O disco faz justiça ao título, com músicas estimulantes e apropriadas para ouvir antes e depois das paixões.
Radicado em São Paulo, o Bazar Pamplona é Estêvão Bertoni (letras, vocal e guitarra), João Victor dos Santos (guitarra), Rodrigo Caldas (bateria), Rafael Capanema (baixo e teclado) e Pinguim Miranda (teclado e baixo).




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